Há alguns anos eu trabalhei como garçom em um hotel na Irlanda, quando vi a vaga em um anúncio e me interessei muito, afinal de contas, além do valor do meu salário, sabia que certamente iria receber caixinhas e por isso me esforcei para ir bem na entrevista. Deu certo.
A grande questão foi que na entrevista fui informado que seria garçom do café da manhã ao invés de jantares e almoços. Automaticamente vi que as caixinhas não viriam como pensei, mas precisava de trabalho e resolvi encarar mesmo assim.
No primeiro dia, já fui perguntando para todos os membros da equipe de garçons se recebiam caixinhas ali e as respostas foram unanimes: “NÃO”. Aquilo até me desanimou um pouco, mas lembrei que para muitas coisas na vida querer é poder, e temos que fazer por merecer. Então comecei uma campanha imensa para conseguir tirar leite de pedra, conseguir uma caixinha no café da manhã.
Alguns dias depois, um homem carrancudo entrou no salão, eu o abordei e o convidei para sentar, sem nem se quer responder meu bom dia ele o fez. Logo em seguida, me pediu algumas coisas, dentre elas um chá, perguntei se ele gostaria que eu adoçasse ou não, se queria muito ou pouco. Enfim, vendo aquela cara feia, ao invés de ficar bravo com ele, pensei que ele precisaria um pouco mais de atenção e o fiz com todo carinho do mundo.
Ele foi embora depois de meia hora e nem se quer se despediu de mim, mas tudo bem, fui limpar sua mesa e ao levantar seu prato havia ali embaixo deixado mais de uma dezena de moedas, elas eram douradas e pareciam tesouro. Não acreditei e agradeci mesmo ele não estando mais ali.
Naquele dia um conceito foi plantado em minha cabeça: vejo muitas pessoas dizendo que esperam algo acontecer para fazer o que precisa ser feito, quando, na realidade, devemos fazer o que precisa ser feito para que algo aconteça. Alguns amigos me diziam que quando o cliente chegava com cara feia, eles nem se esforçavam, como quem diz: ele tem que fazer a parte dele primeiro para eu fazer a minha. Um grande erro, porque só quando fazemos a nossa parte as coisas acontecem.
Daquele dia em diante comecei a aprender falar “bom dia” em vários idiomas e dizia o “bom dia” no idioma do hóspede, me interessava por fazer com que saíssem do hotel com uma carga extra de energia de manhã, fazia meu melhor, mesmo quando aparentava não ser correspondido.
Depois de algumas semanas, naquele mesmo local onde nunca haviam sido dadas caixinhas, eu recebia muitas caixinhas diárias e algumas pessoas da equipe após mudarem sua postura, também começaram a receber.
Certa vez meu pai me disse “Mude a atmosfera, saia e vá acima das nuvens onde o céu é sempre azul”. Tento fazer isso todos os dias!
Um forte abraço e que nossas pegadas sejam marcas de um caminho de sucesso.
Rafael Régis Somera